Max Verstappen é um cara legal?

Assim como todas as outras vezes que a comunidade da Fórmula 1 fica entediada e sem conteúdo de corrida, o mesmo tipo de assunto volta à tona nas redes sociais. Neste intervalo entre Sakhir e Jeddah não foi diferente. Dessa vez, a polêmica foi a seguinte:

Max Verstappen é um cara legal ou não?

Sendo fãs da categoria, é normal nos questionarmos quem é a pessoa por debaixo do capacete e da balaclava. É assim que podemos nos aproximar de figuras que vemos com paixão ou com desprezo: sabendo mais sobre elas. Gostamos de consumir material daquela pessoa, coisas que se identifica, declarações que já deu e assim por diante.

Nesta semana, após uma série de threads opinativos de diversos fã clubes que, coincidentemente, casou com uma declaração inesperada (e positiva) de Verstappen sobre Hamilton, muitos usuários do Twitter comentaram suas percepções sobre o bicampeão mundial.

É de conhecimento público que Max Verstappen amadureceu muito nesses 8 anos de Fórmula 1.

Ele passou de um garoto brigão e agressivo a alguém calmo e ponderado.

Apesar disso, é difícil esquecer as falas questionáveis dele no decorrer da carreira. Uma parte, na verdade, não só foi questionável como problemática.

Em 2018, por exemplo, ao se irritar com perguntas de uma coletiva pós GP do Canadá, ele disse que “poderia cabecear alguém” de tão estressado.

Em 2022, durante uma live junto de seu companheiro de equipe, Sergio Perez, Max diz que o item de maior valor que já comprou foi a atual namorada Kelly Piquet.

Na ocasião, torcedoras manifestaram seu repúdio pela fala de Max, que riu após fazer esse péssimo comentário de cunho extremamente machista e arcaico.

Além destes episódios, Verstappen recebeu muitas críticas nas temporadas de 2020 e 2021, por se apresentar de maneira omissa sempre que debates sociais importantes eram trazidos para a categoria. 

Os fãs relembram quando ele não se ajoelhou durante homenagem encabeçada por Lewis Hamilton no período de manifestações do Black Lives Matter (Vidas Negras Importam, em tradução livre), além de dizer que Nelson Piquet “definitivamente não é racista” no episódio em que o brasileiro foi sim racista e homofóbico ao falar sobre o heptacampeão.

O que precisa ser questionado, quando oportuno, não é se Max Verstappen é um cara bacana ou não; mas sim o que entendemos por alguém legal.

Certamente para quem não enxerga a importância de comportamentos off track, o bicampeão é um cara admirável para torcer e defender.

Se estamos falando de um público que se preocupa e abraça conceitos contemporâneos à categoria, não gostar de Verstappen é algo de praxe. Afinal, ele não esboça qualquer ímpeto de se tornar alguém mais consciente e engajado.

Apesar disso, ninguém é 100% legal ou 100% digno de ódio. Enxergamos os pilotos e definimos sua personalidade, seu estilo ou caráter, através de partículas muito pequenas que sabemos sobre suas vidas.

Max Verstappen pode sim ser um cara legal, isso é indiscutível. Talvez a paixão pelo automobilismo o cegue, deixando pouco ou nenhum espaço em sua vida para outras questões que acontecem fora de um circuito. Não é possível saber, são muitas possibilidades. Talvez ele só não queira crescer nesse sentido ou desenvolver a habilidade de olhar em volta. 

A única coisa que precisamos ter em mente, é que a Fórmula 1 não é feita somente por pilotos, equipes e patrocinadores, mas também por nós: os torcedores. E por quem transformamos em ídolos e inspirações. Seja um cara publicamente legal ou outro que gostamos de acreditar que é legal pois é um reflexo de nós mesmos.

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Brenda da Rosa é estudante de Jornalismo pela UFRGS e opinóloga profissional quando os assuntos são: Fórmula 1, Comunicação, Política, Comportamento e Negritudes.