Na Fórmula 1, o Grande Prêmio da Austrália tomou conta dos primeiros dias de abril de 2022. Mas, se engana quem acredita que os eventos ocorridos em pista foram os únicos a ganhar um lugar ao Sol. Com uma série de medidas anunciadas na véspera da largada oficial em Melbourne, a Federação Internacional de Automobilismo atraiu as atenções para alguns regulamentos, digamos, peculiares.
Ainda respirando com dificuldade sob os escombros deixados pelo GP de Abu Dhabi em 2021, onde a atuação de Michael Masi na direção da prova causou um fim de temporada polêmico, a FIA quer ter certeza de que nada seja passível de questionar a sua legitimidade. Para isso não acontecer novamente, a organização entendeu que precisa ser mais enfática e objetiva com todos os seus regimentos. Repito, todos. Até mesmo piercings e roupas íntimas.
O alvoroço dos bastidores se deu início pelo anúncio do veto ao uso de jóias na F1. A proibição é considerada uma medida de segurança e ela está, teoricamente, em vigor desde 2005. No entanto, uma nota publicada pelo diretor de prova, Niels Wittich, em que ele relembra a existência da norma, foi o suficiente para Lewis Hamilton e Max Verstappen brincarem com a situação.
“Quer ver de novo?” perguntou Verstappen após o piloto inglês cogitar a presença de um piercing no mamilo do holandês. Os membros da Federação não sabiam, porém, esse seria apenas o estopim das várias declarações sobre a súbita fiscalização de alguns aspectos antes praticamente ignorados.
Durante o final de semana australiano em que os piercings se tornaram a principal ameaça à segurança, as controvérsias continuaram com a “reunião de pilotos mais longa da minha vida”, segundo Hamilton. Nela, as roupas íntimas se tornaram o alvo da vez.
De acordo com o heptacampeão, no ambiente em que grande parte dos diretores, hipocritamente, não estavam usando máscaras de proteção contra a Covid-19, os pilotos foram instruídos a vestirem roupas íntimas resistentes ao fogo. O regulamento vigente no Apêndice L do Código Desportivo Internacional é, mais uma vez, apenas uma das regras existentes que nunca realmente ganharam as atenções da FIA.
Se as discussões já estavam encharcadas de gasolina, não demorou muito para o fogo ser ateado. Pierre Gasly foi direto na escolha das palavras: “Se eles querem checar minha bunda, fiquem à vontade, não tenho nada a esconder”.
Quando o assunto é segurança, não é preciso pensar em um passado muito distante para questionar os verdadeiros motivos por trás das recentes decisões: a realização do Grande Prêmio da Arábia Saudita, enquanto mísseis atacavam a sede da Aramco a 10km do circuito de Jedá, e o próprio desuso de máscaras contra o coronavírus nas reuniões, na semana em que Sebastian Vettel finalmente pode retomar a correr após ter sido infectado e afastado, são alguns fatos que provam a falta de coerência da Federação Internacional de Automobilismo e a sua escolha de quais normas seguir.
Fato é que piercings e roupas íntimas nunca foram tão polêmicos na F1.
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Nathalia Tetzner é estudante de Jornalismo e ama escrever sobre quase tudo. Seja debatendo cultura ou analisando Fórmula 1, ela sempre carrega consigo um senso crítico e social.
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