
No último sábado, 3 de junho, no GP da Espanha, Guenther Stein foi chamado a prestar esclarecimentos por ter chamado os comissários da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) de “leigos”, na sexta-feira, e que tomavam decisões sem consistência, enquanto outros esportes profissionais teriam árbitros profissionais. O chefe da equipe Haas, uma pequena equipe da F1, estava indignado com uma decisão tomada contra seu piloto Hulkenberg passado, GP de Mônaco.
As críticas de Stein revelam o que a comunidade da F1, basicamente, pensa, mas as equipes grandes, dificilmente, irão manifestar-se a respeito, por medo de serem prejudicadas em decisões da FIA. Mas é preciso analisar os pontos fortes e fracos de se ter comissários profissionais e sugerir propostas para melhorar o sistema. É necessário reconhecer que nenhuma medida sozinha vai ter efeito pleno, nem sequer é possível chegar a este objetivo completamente, mas com novas ações a longo prazo, é possível aperfeiçoar muito o padrão de regulação da F1.
Para contextualizar, a Fórmula 1 funciona com 4 comissários convidados a cada corrida. Três deles, se acredita, são versados no regulamento da FIA, apesar de não haver uma escola para isso. O quarto comissário é um piloto local, que tem a função de comunicar “como o piloto pensa”, mas também tem direito a voto. Essa questão do piloto é interessante, porque dependendo da sua geração, se já passou pela F1, ele pode ter sido rival de um piloto que está correndo na pista. Quando o Schumacher voltou a correr de 2010 a 2012, ele teve que ser julgado por alguns comissários ex-colegas de pista, por exemplo.
Um ponto positivo de profissionalizar os comissários é fazer uma verdadeira “escola de pensamento” das decisões da FIA, evitando decisões tão irregulares a cada corrida. Como contraponto, não evita a chamada “politicagem1”, que se acumulou ao longo dos anos. Como a comunicação entre chefe de equipe e diretor de prova, expectativas de punição diferentes para os líderes do campeonato “para não intervir na disputa do título de pílotos”, etc.
Um segundo ponto positivo da mudança proposta por Steins seria a possibilidade de ter um corpo regular e fixo de comissários, em torno de 20 comissionados, se revezando entre as corridas do ano, em grupos de 4, para ter decisões mais regulares e fixas. Contudo, mesmo com um grupo fixo de comissários treinados, eles continuam se revezando por corrida, o que pode ocasionar decisões diferentes.
Em terceiro lugar, é de se imaginar que uma equipe de comissários profissionais, por ser mais preparado, poderá evitar esperas mais longas e menos erros. O treino dos comissários pode garantir que as decisões mais rápidas, dependendo da complexidade da situação, se eles souberem usar da melhor forma os recursos da escola da FIA em que se formaram para exercer sua profissão e não cederem à politicagem, que muitas vezes, vem da própria FIA. Outro problema relevante é que a FIA precisa estar sempre disposta a despender altos recursos para que o comissionariado profissionalizado funcione bem. Recursos para a Federação não faltam, mas é preciso saber se ela está disposta a usá-los em favor deste propósito. Já a questão dos erros, tudo depende não só das regras, mas como e com que cultura elas serão aplicadas.
É necessário tratar de propostas para melhorar o sistema para além da profissionalização pura e simples. Não existem respostas fáceis para se acabar com a “politicagem” da F’1, aliás, na grande maioria dos esportes onde há muito dinheiro envolvido, status, burocracia na Federação ou há tudo isso junto. Transparência deve estar no topo da lista de medidas para se evitar a politicagem. Como no caso da comunicação entre diretor de prova e chefes de equipe, já que ela existe, deve ser aberta a todos, inclusive ao público de F1. E e se deve criar mecanismos eficazes, frequentes e firmes de prestação de contas do diretor de prova e das equipes destes diálogos Lógico, isso não impede que erros aconteçam, mas a Psicologia Social explica que a certeza de punição – e não tanto a rigorosidade dela – impede que as pessoas cometam determinadas ações. Fazer com que esse monitoramento nestas conversas seja feito com mais periodicidade pode ajudar a controlar a “politicagem”.
Outra forma de se manter uma política mais limpa e plural na F1 é por meio de uma maior democratização dos lucros, de uma reforma dos sistemas de votação – que hoje favorecem as grandes equipes – uma horizontalização do poder para atingir as equipes menores também – sim, nenhuma dessas medidas é fácil, e nem são medidas a curto prazo prazo. Mas é possível pensar em alternativas, como a pressão de público, imprensa e patrocinadores para a entrada de equipes que já tem, virtualmente, capacidade de entrar na F1, como a Andretti. Esta já seria uma providência relevante.
Sobre a questão de muitas vezes os comissários serem muitas vezes parciais dependendo se o piloto está disputando ou não o campeonato, é necessário que este assunto seja ponto do conteúdo programático do curso de profissionalização destes profissionais da FIA. Estes e outros assuntos polêmicos dos últimos anos devem passar por análise do curso, mas sempre haverão polêmicas novas, por isso, sempre deve haver cursos de atualização.
Sobre a questão do revezamento entre as corridas, em meio a esses cursos de atualização, será de grande valia que esses profissionais comissários se encontrem para alinharem as ideias entre si e com o conteúdo programático. E, quanto ao piloto local, é uma questão difícil de ser resolvida, mas já que o calendário da Fórmula 1 é escolhido com bastante antecedência, que se provesse pelo menos uma base do conteúdo programático da escola da FIA para que eles não ficassem desalinhados com as ideias dos outros comissários. E também se evitasse escolher pilotos que tivessem corrido juntos aos pilotos do grid atual.
Por fim, esse conteúdo programático da FIA não pode ser burocratizado, de forma a dificultar a vida dos comissários. É óbvio que o regulamento da FIA deixa muito brechas, e são nelas que as equipes se apoiam, muitas vezes, para fazer melhorias nos carros – vide a equipe Brawn, em 2009, mas a Federação deve munir-se para fazer o melhor julgamento possível, e não fazer politicagem com as equipes. É uma longa tradição de corrupção e desequilíbrio de forças na F1 que vem de gerações e que está presente não só na Federação Internacional de Automobilismo, mas, como foi dito, na grande maioria das Federações em que muito dinheiro, status e burocracia envolvidos, mas vale a pena que a comunidade da F1 esteja engajada por um esporte mais limpo e democrático e justo.
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Ester dos Santos é mestranda em Ciência Política, na UnB, acompanha Fórmula 1 desde 2009 e ama falar de automobilismo, política e assuntos afins.
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