F1 Academy 2024: Nova perspectiva para as mulheres brilharem no automobilismo ou ação afirmativa para ‘’inglês ver’’ da FIA?

A partir do próximo ano, 2024, a F1 Academy, categoria criada para abrir oportunidades para jovens pilotas no automobilismo da Europa, contará com a participação, em seu grid, das dez equipes de F1, além de outras cinco equipes.

Além disso, a categoria feminina passará a ter um calendário que é alinhado ao da Fórmula 1. As corridas devem ser transmitidas ao vivo e na íntegra, já que não haverá desculpa de que não há material de transmissão. É preciso, então, que a política de incentivo a mulheres no automobilismo não cometa os mesmos erros da W Series, categoria feminina anterior à F1 Academy, e que esta última se comprometa com os acertos da primeira categoria, como a visibilidade, e busque as demais condições materiais e imateriais para a chegada de mulheres na F1.

São necessárias mais mulheres no automobilismo (com representatividade étnica, deficiência ou não e diferentes características), porque a diversidade ajuda a recrutar talentos em diferentes grupos, facilita a equidade e é mais produtiva, segundo pesquisas científicas. A entrada de mulheres no automobilismo ajudará a originar personalidades emblemáticas para que grupos minoritários se inspirem para buscar o automobilismo como opção de carreira. A questão é que meninas e mulheres sofrem com diferentes empecilhos da sociedade, como o machismo, a falta de apoio da família, até mesmo a violência nos autódromos, a falta de patrocínio para disputar corridas, entre tantas outras barreiras para seguir carreira no esporte a motor e alcançar as categorias mais altas.

Por isso, é interessante analisar o que funcionou ou não no caso da W Series, primeira categoria de automobilismo exclusivamente feminina. Ela, corretamente, serviu como uma plataforma de visibilidade para o talento das jovens pilotas, pois corria junto a F1 em vários lugares e suas corridas eram transmitidas em várias mídias, inclusive na televisão. Quanto aos erros, é marcante o exemplo da multicampeã da W Series Jamie Chadwick de não ter conseguido fechar um contrato para correr em um carro, minimamente competitivo, em uma categoria de base na Europa. A opção foi mudar de planos e correr nos Estados Unidos, na Indy. A W Series foi criticada por não dar à campeã anual, pelo menos, um carro competitivo numa categoria de base em uma categoria de Fórmula na Europa e patrocínio para competir durante o período de um ano. Esta crítica a F1 Academy deveria aceitar e aderir.

Segue-se, aqui, duas propostas específicas para o momento atual da F1 Academy. A primeira é dar mais oportunidade às pilotas da F1 Academy para ingressar nas Academias das equipes de pilotos de base das equipes de Fórmula 1, se essas pilotas assim quiserem participar delas. A segunda proposta, acredita-se, é mais promissora para chegar à equidade e movimentar os treinos de sexta-feira na Fórmula 1. Há muitos questionamentos sobre o primeiro treino de sexta de sexta-feira., sobre o que se fazer com ele, pois muitas pessoas acham perda de tempo.1

Tanto tempo de treino livre acaba deixando o ‘’jogo fácil’’ para as equipes que já estão mais na frente, exceto se há alguma mudança no clima. Uma proposta muito comentada é de deixar o primeiro treino livre para os pilotos de testes andarem – ou novatos das categorias de base -, assim eles ganham pontos na carteira para a superlicença, e talentos são conhecidos, como aconteceu com o Sebastian Vettel, em meados dos anos 2006. Hoje, a figura de piloto de testes é quase que decorativa, só testa o simulador, praticamente. Então, por que não colocar os pilotos de teste, novamente, para testar na sexta-feira, e uma cota de 50% de treinos de participação das mulheres, em cada equipe, nos treinos livres?

Alguém poderia dizer que isso é injusto com os homens. De forma nenhuma: É uma política de reparação por toda discriminação que as mulheres sofrem em sua trajetória. É uma política de diversidade, com uma enorme chance que se descubram novos talentos, afinal, não são apenas os homens brancos que são dotados de talento para o automobilismo.

E é justamente neste ponto que muitos vão questionar: não seria funcional – e se elas não forem competentes para testar? – e as outras milhares de questões que as equipes pensam? Em primeiro lugar, a equipe não selecionaria uma pilota que não estivesse pronta para testar, mas uma pilota de verdade que está competindo em uma categoria de automobilismo e passou pelo processo de seleção rigoroso como a da F1 Academy. Haveria os mesmos cuidados que se tem com um piloto de testes para se assumir um carro de F1. Todas as equipes teriam esta regra. A questão é que toda a comunidade de F1 teria que possuir esta nova mentalidade. E sim, veríamos surgir as novas pilotas de F1 em um tempo muito mais rápido.

1 A título de informação, para quem não acompanha a categoria mais profundamente, há dois treinos livres na sexta-feira e um no sábado, exceto quando há corridas sprints.

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Ester dos Santos é mestranda em Ciência Política, na UnB, acompanha Fórmula 1 desde 2009 e ama falar de automobilismo, política e assuntos afins.

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