
Após sessão sprint-race no GP da Bélgica, em Spa, no último mês de julho, Lewis Hamilton citou a famosa frase de Ayrton Senna – que reforça a importância do aproveitamento de uma oportunidade quando ela se faz presente – Atualmente, o britânico não luta por um campeonato e sim pela sua própria confiança como piloto.
“Eu tinha mais da metade de um carro por dentro e se você não está aproveitando uma oportunidade, então você não é mais um piloto de corrida, como Ayrton sempre disse, então foi isso que eu fiz.”
Após períodos conflituosos, força e coragem não são os primeiros sentimentos a se manifestar. Em 2021, na última corrida da temporada em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, o dono do número 44 teve seu oitavo título retirado, sendo todo o processo após este episódio um exemplo de sua vulnerabilidade como ser humano.
“Eu não sou perfeito. Alguns dias estou cansado e não sou eu. Eu acho que demonstrar vulnerabilidade é muito importante, principalmente em nosso esporte que é dominado por homens. Eles não mostram quando estão bem ou se sentindo mal, porém, é importante contar a eles que está tudo bem sentir.”
Essa frase é perfeita para comprovar o quão falha é a visão do sentir na Fórmula 1. Em um esporte dominado por homens, você verá que a chuva de sentimentos só será apreciada se ela for positiva, se há uma vitória ou boa qualificação em um resultado final. Como por exemplo, em 2022, o heptacampeão foi alvo de muitas falácias e uma delas era a ideia de que não servia mais para permanecer na categoria. Assim, percebemos que ninguém realmente compreendeu o que o piloto passava, se sua confiança estava erguida novamente e se ele se sentia confortável para estar naquele mesmo sistema depois de ter sido abusado por ele.
Bell Hooks, norte-americana e ativista dos direitos raciais, diz que no mundo de hoje somos ensinados a temer a verdade, a acreditar que ela sempre dói e sermos encorajados a ver pessoas honestas como ingênuas, como perdedores em potencial. Essa frase demonstra que é óbvia a repulsa pela verdade, pela expressão dos reais sentimentos quando eles podem destruir uma reputação.
Durante seu tempo recluso, Hamilton não deu entrevistas, se limitando às pessoas que ama e usando aquele período para encontrar-se, um dos passos para a cura. Já em 2023, vemos o primeiro piloto da Mercedes em mais uma temporada desafiadora, percebendo que não estaria na briga pelo topo mas encarregado de liderar seu time novamente para o caminho vitorioso.
Os comentários de aposentadoria são constantes assim como as respostas de permanência. Lewis tem seus sentimentos e pensamentos expostos em uma vitrine e ele não é mais refém da verdade. O mais interessante na caminhada de Lewis Hamilton após o show de horrores em Abu Dhabi em 2021, é como ele encontra cada um de seus pedaços e busca unir o melhor de si.
Na corrida da Hungria deste ano, o piloto luta e consegue a pole position de forma extraordinária, bem ao seu estilo. Conquistando a sua pole número 104, mais do que todos, ele teve o primeiro lugar do grid para si, e mais do que isso: percebeu que os velhos tempos não eram tão velhos assim, que sua autoconfiança e positividade o levariam longe independentemente de quão rápido era seu carro.
Ao escrever “O amor-próprio não pode florescer em isolamento”, Bell deixa óbvio que não importa o quão determinado você esteja, o amor-próprio também precisa da combinação de confiança, compromisso e cuidado. O processo de cura para Hamilton é uma combinação dessas coisas e também o respeito que teve consigo mesmo que refletem em sua luta pelo topo. Diversos boatos a fim de desmoralizar ou ofender sempre estarão presentes, recheados e infinitos, mas, como demonstra a pole da capital húngara do heptacampeão, se reerguer novamente sempre será mais poderoso e impactante.
Não é importante que o heptacampeão reviva o que tentou quebrá-lo quando este evento tinha a intenção de fazê-lo se sentir sem valor. A verdadeira cura vem da autoconsciência e não da reafirmação de seu próprio valor. Dizer seus pensamentos, criticar o mundo e o sistema onde vivemos, é uma forma de praticar a integridade pessoal e social, por meio da reflexão entende-se exatamente como não aceitar posturas que nos desvalorizem.
Quando o dono do número 44 aproveita uma oportunidade de se impor, expressar seu talento e maneira de pilotar, ele se encontra cada vez mais em seu processo de tratamento. Atletas como ele não precisam reafirmar a razão de serem lendas, mas sim lutar para que a chama que os inspira permaneça acesa.
Assim, Hamilton demorou muitos anos para construir sua confiança, sofrendo abusos antes mesmo de estrear na Fórmula 1. Após anos de silenciamento, o maior campeão da história enxergou a si mesmo e a cada nova temporada, ele repete o processo.
_______________________________
Carioca nascida na Zona Oeste do Rio de Janeiro, Laiza Villaça é uma aspirante a estudante de jornalismo de 20 anos influenciada pela cultura afro e viciada em velocidade. F1 é seu esporte favorito desde quando acordava cedo na casa de sua avó e assistia as sessões sem saber exatamente o que acontecia. Inspirada pelo realismo, propõe uma dose de desafio e reflexão em parágrafos, combinando competição e sensibilidade.
[…] Ao longo do ano, ele somou vitórias e pódios importantes — por exemplo a vitória no Monaco Grand Prix…
[…] Max Verstappen (396) e Oscar Piastri (392) também tem chances de se sagrarem campeões: Confira AQUI todas as possibilidades…
[…] AQUI todas as informações do GP de Abu […]
[…] AQUI todas as informações do GP do […]
[…] Lembrando que neste fim de semana também teremos a corrida SPRINT, que ocorre no sábado e entrega pontuação reduzida…