A F1 DO FUTURO ESTÁ LOGO ALI

Corridas mais curtas, menos treinos livres, mais sprints e grid invertidos? Sim, a F1 quer continuar se adaptando ao público jovem e planeja mais mudanças no futuro próximo. Stefano Domenicali, CEO da categoria, falou sobre essas questões polêmicas em nova entrevista e você confere uma análise sobre tudo isso, ponto a ponto, nesse post.

Antes de mais nada, um pouco de contexto: Após ter sido adquirida pelo grupo norte-americano Liberty Media, em 2017, a F1 começou a se adaptar e atualizar, correndo atrás do “prejuízo” e buscando novas formas de renovar e aumentar seu público, tanto nos Estados Unidos quanto em outros países onde a categoria já estava consolidada. A F1 investiu em diversas pesquisas nesses primeiros anos para mapear o seu público, identificar pontos fracos e começar a expandir o seu produto da melhor forma possível.

Um dos primeiros passos foi uma participação mais ativa nas próprias redes sociais, principalmente no canal do YouTube, onde resumos oficiais dos treinos livres começaram a ser postados: Algo que não acontecia na gestão anterior. Comentários positivos de espectadores no vídeo do primeiro “highlight” de treino livre postado em 2017 mostram como, já naquela época, o início de uma nova era da F1 mais presente no mundo digital começava com o pé direito:

Os anos foram passando e dados de pesquisas recentes mostram que a audiência da F1 não para de crescer e de se rejuvenescer no mundo todo. Recordes de público (tanto nos circuitos quanto nas redes) já viraram costume, e a globalização da categoria está mais forte do que nunca, com seriados como “Drive to Survive” e o recém-lançado filme da Apple, “F1”, captando mais uma grande parcela de novos fãs.

O efeito é praticamente dominó. Com uma audiência mais jovem e engajada, as parcerias comerciais não demoraram em aparecer: As empresas querem mostrar e vender seus produtos e serviços e a F1 moderna, ao contrário do que era antes, virou um lugar atrativo para essas marcas dialogarem com esse público. Porém, como nada é perfeito, começaram a aparecer alguns problemas no meio do caminho.

A F1 nem sempre é “emocionante”. São inúmeros os casos de corridas menos movimentadas, com poucas ultrapassagens ou momentos marcantes. Até aí, tudo bem, pois o seu público fiel ao longo das décadas sabe dessas nuances. Mas a modernização da categoria, aliada à ficcionalização nos seriados e highlights nas redes, colocou a vara muito alta na questão de entretenimento. Todo o marketing em volta da F1 a tornou um grande produto esportivo onde, por conta dos pontos mencionados acima, algo incrível e emocionante é esperado em todas as corridas.

Vale lembrar que, sim, alguns artifícios foram criados para aumentar a emoção nas pistas, como o DRS e as próprias sprint races, com ambas soluções tendo seus fãs e seus detratores. Mas claramente essas mudanças não são suficientes. Não mais.

Domenicali quer mais mudanças e se apoia em dados de pesquisas que apontam que os fãs querem mais ação. No ponto de vista mercadológico, não é tão simples atrair público pro circuito numa sexta-feira onde apenas treinos livres são disputados. E é por aí que uma das mudanças deverá ocorrer. Ele diz: “Promotores e fãs querem ação. Nossas pesquisas mostram que a grande maioria do público quer que os pilotos lutem por um resultado. Para ser sincero, eles estão cansados ​​dos treinos livres. Esse é um fato que não podemos ignorar”.

Domenicali também argumenta que a tecnologia dos simuladores é suficientemente avançada para que as equipes fiquem sem duas horas de treino numa sexta-feira. Vale o debate.

A ideia de deixar as sextas-feiras mais interessantes é uma das mudanças que já está ocorrendo: Desde 2021, a F1 está implementando as sprint races (corridas de menor duração) em alguns fins de semana de corrida. Com isso, apenas um treino livre é realizado, deixando todas as outras sessões “competitivas”. No início a grande maioria dos pilotos era contra mas, segundo Domenicali, o jogo virou:

“Quanto aos pilotos, inicialmente 18 eram contra a sprint e dois eram a favor, mas hoje é o oposto. Discutimos isso no jantar que organizamos na Áustria e todos se manifestaram a favor. Até o Max, com quem conversei pessoalmente, está começando a dizer que faz sentido, então vejo uma evolução. No fim das contas, os pilotos nascem para correr”.

E ele provoca: “Estou sendo um pouco provocativo, mas os treinos livres atraem superespecialistas. Quem quer ver mais ação prefere um fim de semana de sprint. Há mais para discutir e comentar sobre uma sexta-feira de sprint (onde temos uma classificação), mas entendo que isso precisa se tornar parte da cultura da F1”

Domenicali deixa clara a ideia de cara pro futuro: “Precisamos entender se devemos aumentá-las, como aumentá-las e se devemos usar formatos diferentes. Temos várias discussões com as equipes para decidir a direção. Devo dizer que, com exceção de alguns fãs mais velhos e obstinados, todos querem fins de semana de sprint. A direção é clara: posso garantir que em alguns anos haverá demanda para ter todos os fins de semana com o mesmo formato. Não estou dizendo que chegaremos ao nível da MotoGP, que tem uma sprint a cada etapa, isso é um passo muito grande. Vejo isso mais como um processo de amadurecimento que respeita uma abordagem mais tradicionalista”

Além da questão dos treinos livres e sprints, Domenicali também comentou sobre um tópico mais sensível: Duração das corridas. Pra ele, elas estão longas demais: “As corridas podem estar sendo longas demais para o público mais jovem. Estamos vendo em muitos dos nossos canais que os highlights e resumos tem muita audiência. Para aqueles que cresceram com o formato atual, tudo está ótimo como está, mas há um grande segmento novo que só quer ver o resumo e os melhores momentos de uma corrida”

Por último, Domenicali também comentou sobre um dos tabus da F1: O tal do grid invertido. “Está na nossa agenda. Já discutimos isso antes, mas nos próximos meses precisaremos de coragem para retomar a discussão, porque ouvi vários pilotos propondo isso. No início, todos eram contra, mas na última reunião muitos disseram: ‘Por que não tentamos?’. Na F2 e F3 esse formato existe há décadas. Não acho que haja uma única posição certa ou errada aqui, toda opinião tem valor. Vamos avaliar isso com a FIA e interpretar os dados e as tendências da melhor forma possível”

A verdade é que a F1 vive o seu melhor momento em muitos, muitos anos, e a expectativa é que ela irá se adaptando, pouco ao pouco, ao seu novo público. Isso não significa que ela sempre irá acertar, mas definitivamente veremos mudanças no futuro.

Domenicali avisa: “As coisas estão indo muito bem hoje, mas justamente por isso não podemos nos acomodar. Precisamos pensar no próximo passo”.

E que venha 2026.

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Fonte: Autosport.

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