No começo de junho de 2022, a Câmara dos Deputados concedeu ao heptacampeão de Fórmula 1, Lewis Hamilton, o título de cidadão honorário do Brasil. A decisão foi tomada a partir do projeto de André Figueiredo, deputado pelo Partido Democrático Trabalhista, que tramitou a sugestão desde novembro do ano passado, logo depois do Grande Prêmio de São Paulo.
Desclassificado e obrigado a largar na última fila após garantir a pole position da sprint race, Hamilton escalou o pelotão e alcançou o quinto lugar somente para ser punido novamente e perder cinco posições no grid para a corrida do Domingo. Porém, o que parecia ser o começo do fim se tornou uma narrativa de superação que se colocou entre as melhores performances da carreira do piloto Mercedes.
Em 2021, ele lutava ponto a ponto pelo troféu do Campeonato de Pilotos ao lado de Max Verstappen, piloto da RedBull, e vencer em solo paulista significava a chance de dar a volta por cima. Por isso, a vitória crucial depois de tantos obstáculos ao longo do fim de semana foi um momento épico e emocionante, consagrado pelo ato de carregar a bandeira brasileira ao redor do Autódromo José Carlos Pace, repetindo o clássico gesto de seu ídolo, Ayrton Senna.
Para Figueiredo, a ação simbólica em memória ao tricampeão de F1 transcendeu o esporte e reacendeu a chama de um país bem visto pelo resto do mundo, como era o cenário nacional no contexto histórico de Senna. Assim, criou o projeto de resolução que homenageia Lewis Hamilton com o título de cidadão honorário do Brasil.
O prestígio e o reconhecimento do trabalho de quem impactou positivamente o local são os dois principais objetivos da concessão da honraria. No caso do britânico, a comoção nacional daquele instante inesquecível em Interlagos foi apenas o estopim para a outorga do documento. Afinal, a relação profunda do cavaleiro da rainha com a brasilidade remonta a sua infância.
A distância de quase 9 mil km entre o clima gélido das ruas cinzentas da Inglaterra e as intensas ondas de calor de um país tropical como o Brasil, nem mesmo pode ser comparada com as enormes diferenças culturais que também separam as duas nações. Então, o que levaria um menino do interior do Reino Unido a vestir a camisa amarela da seleção brasileira e a cultuar Ayrton Senna, quando referências conterrâneas não o faltavam? A identificação.
Em entrevista para a GQ Brasil durante o GP de São Paulo, ele expressou o sentimento de pertencimento que o acometia quando assistia às partidas de futebol: “Na verdade, eu estava vendo pessoas que se pareciam comigo, que tinham a minha aparência. Quando cheguei ao Brasil pela primeira vez, fiquei muito emocionado, porque eu estava, em essência, em casa”.
Não à toa, o capacete que o número 44 está usando na presente temporada de Fórmula 1 é uma retomada das suas raízes no Kart, quando carregava a famosa cor amarela de Senna. É incrível como todos esses atributos o transformaram em um verdadeiro símbolo brasileiro. Ainda que ele tenha acabado com as chances de Felipe Massa ser campeão do mundo em 2008, o britânico é, correntemente, o elo mais forte entre a torcida e o esporte que há anos não possui uma figura nacional.
Lewis Hamilton disse ter acordado de manhã surpreso e emocionado com a notícia. A data para a cerimônia de entrega do seu título de cidadão honorário do Brasil deverá ser definida em breve, até lá, ele e a sua equipe terão alguns meses para se recuperarem e proporcionarem um espetáculo no Grande Prêmio de São Paulo mais uma vez. Não há dúvidas: a homenagem fez nascer um brasileiro.
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Nathalia Tetzner é estudante de Jornalismo e ama escrever sobre quase tudo. Seja debatendo cultura ou analisando Fórmula 1, ela sempre carrega consigo um senso crítico e social.
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