[…] Ao longo do ano, ele somou vitórias e pódios importantes — por exemplo a vitória no Monaco Grand Prix…

O esporte, inclusive o automobilismo, como uma parte relevante da sociedade, não pode se eximir de preservar a moralidade e os direitos humanos, seja dentro das próprias disputas desportivas, seja em sua organização como um todo.
A forma como vem sendo tratadas as recentes denúncias de escândalo na equipe Red Bull, em que Christian Horner, dirigente da equipe, teria cometido assédio sexual contra uma funcionária da equipe mostra como a Fórmula 1 se importa mais com suas disputas de poder em detrimento do respeito à pessoa humana. Tanto pela imagem da categoria, quanto, principalmente, pelo próprio respeito às vítimas é necessário que a Fórmula 1 trate com seriedade e transparência as suspeitas de violação de direitos humanos.
O caso Christian Horner foi revelado no começo de fevereiro, quando o jornal holandês De Telegraaf revelou que o chefe da equipe da Red Bull estava sendo investigado pela própria equipe. As acusações são de que ele teria mandado mensagens de cunho sexual “por um tempo considerável” para uma funcionária da equipe. No dia 28 de fevereiro, a companhia de energéticos considerou Horner inocente e, no começo de março, a funcionária foi afastada da equipe principal. Ela tem direito a recorrer na justiça comum agora.
Apesar de a Red Bull ter considerado a investigação interna dela própria do escândalo como “justa, rigorosa e imparcial”, esta última seria bem mais efetiva se tivesse sido conduzida, simultaneamente, com uma investigação externa. É sabido que as investigações internas, apesar de possuírem mais acesso às informações, também são consideradas menos imparciais do que as externas, por isso, uma combinação dos dois tipos de apuração poderia dar mais lisura e transparência ao caso. O que se observa das últimas semanas é que este caso tomou grandes proporções e ainda está em pauta na equipe e na imprensa, porque ele envolve uma grande disputa de poder entre os membros da equipe taurina. Se não fosse isso, este assunto muito provavelmente teria sido abafado. Este é mais um caso em que o desrespeito aos direitos humanos na F1, principalmente de minorias, como mulheres, se mostra menos digno de atenção do que as disputas internas da categoria por poder e dinheiro.
Alguns outros casos servem para demonstrar o argumento da falta de compromisso da F1 com a dignidade humana, em favor de seus interesses econômicos e políticos. Em 2021, o piloto russo Nikita Mazepin foi efetivado na equipe Haas, mesmo após ele próprio ter postado um vídeo em que cometeu aparece cometendo assédio sexual contra uma mulher. Mazepin apenas foi demitido da equipe americana de F1 em 2022, em virtude do patrocínio do piloto, vindo da empresa russa do pai dele, ter sido retirado por causa da invasão da Rússia à Ucrânia. Outro caso é das acusações contra o então presidente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), em 2008, Max Mosley. Max Mosley, após o vazamento de imagens em que ele participa de uma orgia nazista, perdeu seu cargo na instituição. É inegável que a enorme queda da reputação mundial de Mosley foi um dos motivos para que sua permanência no cargo ficasse insustentável. Mas as pressões proeminentes dos adversários políticos de Mosley tiveram função essencial no afastamento dele da Federação.
Com tudo isso, torna-se notável que a a FIA e na F1 não tem como tradição tratar como primordial a defesa dos direitos humanos, nem a transparência em investigações de escândalos1 em geral, via de regra. Este período em que a Fórmula 1 enfrenta tantos escândalos extra-pista2 é um excelente momento para a categoria revisar e transformar sua forma de lidar com esse tipo de problema. É necessário investir na transparência das investigações nas denúncias de casos de corrupção da FIA, equipes e pilotos; não deixar que as denúncias de violação de direitos humanos sejam tratadas com relevância apenas quando convém a algumas partes poderosas do automobilismo mundial e preservar o direito à livre defesa de todas as partes.
Aplicar estas medidas não apenas tornará o esporte mais ético e alinhado com os os direitos humanos, mas trará outros dividendos para o melhor funcionamento da F1 e da FIA, com a melhora no julgamento de práticas ilícitas e a valorização da imagem da categoria entre o público em geral.
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Ester dos Santos é mestranda em Ciência Política, na UnB, acompanha Fórmula 1 desde 2009 e ama falar de automobilismo, política e assuntos afins.
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