Junho é o Mês do Orgulho LGBTQIAP+: Esse período do ano foi escolhido em celebração à Revolta de Stonewall, em 1969. Nos anos 80, no Brasil, tivemos o Primeiro Encontro Brasileiro de Homossexuais em São Paulo, protesto contra a “Operação Limpeza” promovida pelo delegado José Richetti no centro da cidade. Atualmente, ainda temos repressões contra essa minoria em diversas áreas da nossa sociedade, não sendo diferente no meio do automobilismo.
Durante a história da categoria, houve diversas pessoas da comunidade LGBTQIAP+ que, mesmo com as dificuldades, resistiram. O primeiro e até então único piloto homossexual assumido da Fórmula 1, o egípcio de cidadania inglesa Mike Beuttler, participou de 28 corridas da elite do automobilismo e passou perto de conquistar seu primeiro ponto no GP da Espanha em 1973, no entanto, faltando 9 voltas para o final, foi superado pelo neozelandês Denny Hulme. Encerrou sua carreira no automobilismo em 1974, se mudou para os Estados Unidos, onde se assumiu gay e morreu em 1988, por complicações pelo vírus da AIDS.
Primeira e até os dias atuais, a única mulher a pontuar em uma corrida da Fórmula 1, a italiana Maria Grazia “Lella” Lombardi, se declarava lésbica. Sua pontuação ocorreu no GP da Espanha de 1975, palco de uma tragédia que matou 5 pessoas, Lella terminou em sexto, conseguiu 0,5 ponto, devido que a corrida não chegou ao 75% da distância oficial, foi encerrada após 29 das 75 voltas previstas. Após deixar a elite do automobilismo, disputou as 24 Horas em Le mans e a Nascar, encerrou a carreira em 1988 e em 1992 morreu vítima de câncer.
Charlie Martin, primeira atleta trans do automobilismo, já participou de competições como Michelin Le Mans, 24 Horas de Nurburgring, Ginetta GT5 Challenge, uma categoria de uma marca com sede no Reino Unido, entre outros. Charlie é ativista, usa sua posição de destaque na luta dos direitos da comunidade LGBTQIA+, é embaixadora da Racing Pride, uma iniciativa em parceria com a Stonewall UK, organização não governamental de direitos LGBTQIAP+, para promover a inclusão da diversidade na indústria do automobilismo.
Vencedor das 24 Horas em Le Mans, pela categoria LMP2 em 2010, o inglês Danny Watts se assumiu gay em 2017, após a sua aposentadoria. Segundo o ex-piloto, o ambiente do esporte o “obrigava a esconder” sua sexualidade por ser “muito masculino”. Danny também disputou o Campeonato Mundial de Endurece da Fia, o WEC e na Porsche Supercup.
A brasileira Carol Nunes, é a primeira pilota trans do Brasil. Participou das categorias Hillclimb BR em 2020 e 2021, ficou em segundo e terceiro lugar respectivamente e foi campeã Super Liga Desportiva de Velocidade, na categoria Woman Experience, em 2021. Para uma entrevista ao site UOL, ela disse que parte da sua luta como pilota é contra os casos de transfobia e machismo no automobilismo.
No grid da Fórmula 1 atual, temos dois pilotos que se posicionam ativamente na questão LGBTQIAP+. Lewis Hamilton e Sebastian Vettel, que sempre declaram o seu apoio à comunidade a partir de posts em suas redes sociais, camisas e capacetes.
Por não fazer parte desta pauta, cedi o espaço para meu convidado Vinícius Moreira, cocriador do Fofocas do Paddock e do Portal Pato O’Ward Brasil, que faz parte da comunidade LGBTQIAP+ para dar seu relato final sobre o descaso da categoria em relação ao assunto:
“Eu tenho 23 anos e há pouquíssimo tempo me descobri bissexual. Pode parecer algo tardio, mas as convivências, os preconceitos, os rótulos, e por aí vai, muitas vezes acabam nos prendendo sem sequer percebermos. Parecido acontece no meio do automobilismo. São recentes – e não vem por parte de todos – os debates sobre as pessoas LGBTQIA+ no esporte, bem como sobre os direitos das pessoas da comunidade.
Na Fórmula 1, vemos ações positivas – seja em entrevistas ou durante a corrida, como símbolos no capacete ou no carro – apenas dos dois maiores campeões em atividade: Lewis Hamilton e Sebastian Vettel. Eles, apesar de não serem parte da comunidade, contribuem muito no combate ao preconceito utilizando a grande visibilidade e respeitabilidade que ambos têm.
A Liberty Media também propõe ações pontuais, como a #WeRaceAsOne, enquanto acrescenta GPs em países onde é crime ser LGBTQIA+ a cada temporada. Além disso, na própria F1TT BR não é incomum ver comentários preconceituosos, sobretudo nas respostas à pessoas que falam sobre a LGBTFobia no esporte, política ou qualquer defesa à qualquer grupo social oprimido.
As perguntas que tenho são as seguintes: será que um piloto ou funcionário de qualquer setor de uma equipe se sente seguro em ser assumido diante desse contexto? Será que um/a jornalista homossexual, bissexual, transexual, se sente seguro em cobrir uma corrida no Qatar ou nos Emirados Árabes Unidos? Será que um torcedor brasileiro que faz parte da comunidade se sente seguro em ir assistir uma corrida em Interlagos? Até onde vai nossa liberdade no meio da Fórmula 1? Até onde vai nossa liberdade? Somos livres? Apesar da hashtag, we don’t race as one; we race ALONE. Até quando?”
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Joyce Rodrigues é uma carioca de 19 anos, que está cursando o primeiro período de jornalismo. Ama escrever sobre esportes. A Fórmula 1 é uma das suas maiores paixões desde os seus 14 anos.
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