O grid de 2023 sentirá falta da autenticidade de Daniel Ricciardo

Foto: Pinterest

Há quem diga que Fórmula 1 é um esporte frio. Tem que ter sangue de barata, faca na bota mesmo.

Por detrás dos vinte capacetes na pista e das centenas de fones de ouvido entre paddock, box e pitwall, existe uma frieza característica do esporte a motor: a de se apoiar em números e estatísticas para ser reconhecido. 

Sem risinho, o pole position é aquele que faz a volta mais limpa, séria e concentrada. Quem ganha a corrida é o piloto focado, casto, o qual o único objetivo é chegar em primeiro. Segundo lugar tem que ser um resultado amargo e P3 é razão de frustração pelo resto da temporada.

O que a Fórmula 1 não esperava era ser bombardeada por uma explosão australiana de autenticidade, simpatia e muitos dentes: Daniel Ricciardo debutava em 2011 com uma personalidade tão original que o capacete não foi capaz de reprimir. 

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Era um jovem com fome de vitórias mas com fome de viver também. Viver tudo. O confortante “muito bom” e o pavoroso “muito ruim”. Daniel era obcecado pelo P1, mas após alguns anos aprendeu que um P2 batalhado também era motivo de comemoração. Se tivesse uma disputa pelo P3, ele considerava “um bom dia no escritório”.

Ao longo da carreira, “the boy from Perth” foi o ponto fora da curva no grid. Enquanto convivia com companheiros de equipe contidos e rígidos, típico traço europeu, Daniel destoava pela maneira engraçada e distinta de encarar as coisas dentro e fora das pistas. Natural de um país ensolarado, o calor é algo que ele leva consigo; na pele bronzeada mas principalmente na maneira aquecedora que enxerga a carreira, a vida e suas diversas paixões.

Diferente dos colegas, Daniel era o cara das risadas, o legal, o gentil. Uma piada era mais rápida que um clique de foto. É como se ele sempre soubesse o que dizer. Tinha tato com todas as pessoas, incluindo um Max Verstappen de 18 anos, muita fúria e cara de poucos amigos — Ricciardo sendo um deles.

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O fato é que o australiano se destacou por ser o toque de realidade, normalidade e cor que faltava no grid. Alguém que ria da própria desgraçada, que parabenizava genuinamente resultados positivos dos outros pilotos e que dizia o que sentia.

Disse o que sentiu após Baku em 2018, usou intermináveis adjetivos para descrever a euforia de Mônaco no mesmo ano e contou tudo sobre Monza em 2021. Inclusive, toda a parte sombria após ele, um dos pódios mais populares que a Fórmula 1 teve nos últimos anos.

Esta é outra coisa diferente sobre Daniel Ricciardo: não o falta palavras mesmo que o acontecimento tenha sido digno de silêncio e lamento, como sua saída polêmica da McLaren.

O agora terceiro piloto da Red Bull, mesmo fora do grid, vai deixar saudade por ser menos ídolo, e mais Daniel; um cara normal, que as pessoas olham e pensam: “Eu seria amigo desse cara”. Alguém que teve um diário durante a pandemia da Covid-19, que é apaixonado por músicas e que, inclusive, quer construir um anfiteatro em sua fazenda na Austrália — “Quero trazer a música até mim.”

O grid de 2023 não tem ninguém igual a Daniel Ricciardo e é por isso que sua autenticidade fará falta.

Ele é incomparável.

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Brenda da Rosa é estudante de Jornalismo pela UFRGS e opinóloga profissional quando os assuntos são: Fórmula 1, Comunicação, Política, Comportamento e Negritudes.

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