O uso da F1 como produto de limpeza

Seu país está com uma reputação péssima no cenário internacional? Violou diretrizes dos Direitos Humanos? Não se preocupe! Chame a F1 para o seu território e veja a limpeza de imagem!


Homem bareinita protestando e segurando um artifício escrito “F1 é apenas uma máscara para esconder crimes” (Imagem: VEJA – 2013)

Na Roma Antiga, as autoridades para manipular a população, utilizavam a tática do “Pão e Circo”, desviando a atenção dos problemas locais através de eventos que distribuíam alimentos gratuitos e espetáculos esportivos, como as corridas de biga no Coliseu. No século XXI, existe uma versão mais atualizada, o chamado “Sportwashing”, que afeta diversos esportes ao redor do mundo, principalmente a Fórmula 1.

O termo em inglês surgiu de organizações de direitos humanos e se refere ao uso do esporte como forma de apagar ou esconder ações que os governos não querem que sejam conhecidas. O primeiro registro dessa manobra na era contemporânea foi as Olimpíadas de Berlim em 1936.

A expressão começou a ser usada nos últimos anos, com a sua imagem associada a campanha “Sports or Rights” (esportes e direitos, em português). Uma das principais críticas desse movimento foi direcionada ao governo ditatorial de Ilham Aliyev do Azerbaijão, que está no poder desde 2003 e é conhecido por censurar a imprensa, violação de direitos humanos e usar eventos esportivos para melhorar sua imagem.

Quando falamos de fatos históricos, a categoria teve episódios onde foi usada essa estratégia, um dos primeiros casos datados foi o GP da Espanha de 1951, que ocorreu sob o regime ditatorial de Francisco Franco, onde uma das retas do circuito levava o nome do ditador. Há outros casos famosos, como o GP do Argentina, da Brasil, de Portugal nos seus respectivos regimes militares durante as décadas de 50, 60, 70 e 80, além na África do Sul sob o Apartheid.

Corridas na Espanha (1954), Argentina (1956), Brasil (1972), Portugal (1960) e África do Sul (1992) (Imagens: Getty Images e Motorsport Images)

Atualmente, temos uma onda dessa lavagem vinda de países do Oriente Médio, com um investimento gigantesco em diversos esportes, especialmente o automobilismo. O primeiro GP ocorrido nesta região foi no Bahrein em 2004, desde então, houve um aumento no número de corridas nessa localidade, atualmente totalizando 4. Além disso, a maior empresa petrolífera do mundo, a saudita Saudi Aramco, patrocina a categoria e o atual presidente da FIA, é emiradense.

(Imagem: Aramco Americas e UOL)

A mídia Ocidental frequentemente retrata essa estratégia é um método exclusivo dos países do leste e sul do Mar Mediterrâneo, destacando as ações genocidas a grupos minoritários. No entanto, essas atitudes também ocorrem de forma igual e até pior nos países ocidentais, como é o caso das corridas nos EUA, onde o país viola as diretrizes dos direitos humanos dentro e fora de seu território, sempre usando o esporte como uma das formas de limpar a sua reputação.

A utilização da Fórmula 1 como produto de limpeza, é uma ação recorrente que ocorre há décadas. A geração de lucro e distração da população através de momentos de entretenimento pode ser uma manobra política perfeita. A tática do “Pão e Circo” continua viva, com suas atualizações no período contemporâneo, mesmo após a queda do Império Romano.

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Joyce Rodrigues é uma carioca de 20 anos, que está cursando o terceiro período de jornalismo. Ama escrever sobre esportes. A Fórmula 1 é uma das suas maiores paixões desde os seus 14 anos.

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