Como Lewis Hamilton tem contribuído para a interrupção do Status Quo através da sua fundação Mission 44

Ao mesmo tempo em que Lewis Hamilton passou a conquistar vitórias e títulos na Fórmula 1, ganhou importância também na defesa de várias pautas dentro e fora da categoria. Como o primeiro piloto negro na Fórmula 1, Sir Lewis Hamilton sempre esteve ciente da falta de diversidade em toda a indústria do automobilismo. Mas essa sub-representação não se limita apenas ao grupo de motoristas, incluindo também aqueles que trabalham na garagem e os engenheiros nas fábricas.

O heptacampeão é o principal porta-voz de causas de diversidade na Fórmula 1 que vão além do racismo. O mesmo possui uma pintura especial em seu capacete para dar visibilidade às violações dos direitos humanos impostas em alguns dos  países existentes no calendário da categoria. O design destaca as cores do  arco-íris e a frase We Stand Together (“Nós ficamos juntos”, em tradução livre), representando a luta LGBTQ+ e denunciando também o “Sport Washing” , que é um método usado para ressignificar a imagem internacionalmente manchada de um país, uma tática de atrair grandes eventos esportivos que chamem mais atenção do que os problemas políticos.

Denunciar a tentativa de Sportwashing no Catar é apenas uma pequena parte do que Lewis faz pelo o esporte. Em 2019 após ver uma foto da equipe, o piloto percebeu a falta de diversidade racial e de gênero e se viu instigado a agir e entender a ausência de negros e mulheres ocupando cargos nessa categoria. Este questionamento foi respondido em um relatório, criado por sua Comissão juntamente a Royal Academy of Engineering, que tem como objetivo preencher as lacunas de diversidade no automobilismo e abordar a sub-representação dos negros no automobilismo do Reino Unido, sugerindo uma mudança nesse cenário através de propostas que visam incentivar, apoiar e promover oportunidades que engajem jovens negros.

Portanto é de extrema importância frisar que além de ser o melhor piloto de todos os tempos, é também o maior exemplo de ativista do esporte na atualidade, pois se posiciona de forma efetiva  diante de causas tão importantes, questionando e cobrando o posicionamento social dos pilotos e da Fórmula 1, que possuem uma grande visibilidade, mas que não a usam para evidenciar temas extremamente significativos, principalmente nesse contexto onde o esporte possui um forte recorte racial e social.  Após Hamilton cobrar um posicionamento da categoria, a Fórmula 1 lançou uma iniciativa sobre igualdade e diversidade para aumentar as oportunidades para grupos minoritários,  chamado de “We Race as One” (“Nós Corremos como Um”), que na prática é apenas um produto de marketing publicitário para melhorar a imagem comercial, visto que os ideais mencionados não condizem com os contratos firmados em países que empregam a discriminação, seja de gênero, raça ou religião. Ou seja, nós corremos como um até que as potências do Oriente Médio, a Hungria e países do sul asiático, gerem lucros para a categoria, mesmo que violem os direitos humanos.

Então, indo na contramão de ser apenas um marketing publicitário, o relatório criado pela Comissão Hamilton apresenta uma compreensão mais clara do que está a impedir a indústria automobilística de ser verdadeiramente representativa. E o piloto não apenas gerou dados para localizar as raízes estruturais que causam o problema, como também investiu 20 milhões de sua fortuna pessoal na criação da Mission 44, uma fundação de caridade que apoia organizações, líderes e ideias ousadas para reimaginar o futuro e capacitar jovens de comunidades carentes. O nome é justamente uma referência ao número do carro de corrida de Lewis e um lembrete de que é possível ter sucesso, independentemente de sua formação.

O instituto fortalece ações pela educação e emprego de jovens periféricos por todo mundo, acreditando que um futuro mais justo e inclusivo é possível e propõe prioridades que contribuem para a interrupção do Status Quo

Status quo significa “o estado das coisas”, uma expressão latina utilizada para descrever a maneira como as coisas são atualmente e como elas têm sido historicamente, indicando a ausência de mudanças ou interrupções significativas nesse estado. O conceito geralmente implica uma estabilidade ou continuidade nas relações, ou estruturas existentes. Dessa forma, mudar o status quo é alterar o modo como algo é feito. 

As prioridades mencionadas pela fundação para interromper o status quo dialogam com o que Djamila Ribeiro escreveu em seu livro Pequeno Manual Antirracista “ Historicamente, a branquitude desenvolveu métodos de manutenção do que seria politicamente correto em relação à pauta racial e à reserva de espaço para o “negro único”, o que é certamente uma de suas estratégias mais clássicas. Argumenta-se da seguinte forma: “Veja só, não somos racistas, temos o Fulano, que é negro, trabalhando em tal departamento e, inclusive, ele adora trabalhar aqui, não é mesmo, Fulano?”. E o Fulano, talvez para manter seu emprego, talvez porque aprendeu a reproduzir o discurso da empresa, concorda…. A herança escravista faz com que o mundo do trabalho seja particularmente racista— o que também o torna um dos espaços em que a luta antirracista pode ser mais transformadora. A primeira etapa para isso é sempre questionar o Statu Quo: essa é a melhor maneira de não reproduzir as variadas formas de racismo nos ambientes de trabalho.”

Questionar o Status Quo é desafiar as normas estabelecidas, etapa a qual a escritora considera essencial na luta ao combate às opressões de raça, aos padrões aceitos e as práticas convencionais. É um processo de questionamento crítico e reflexão que requer ousadia, inovação e coragem. Para isso, é preciso analisar o estado atual das coisas, identificar possíveis problemas, limitações ou oportunidades de melhoria e propor soluções inovadoras e isso, o Sir Lewis Hamilton tem feito com excelência. 

Em um esporte extremamente elitista, Hamilton teve que superar dificuldades para se tornar heptacampeão mundial, isso porque ele luta constantemente contra um sistema que nem sempre é gentil, que impõe barreiras que dificultam a comunicação entre pessoas, organizações de diferentes etnias e classes sociais. Por isso, o piloto  deve ser celebrado como alguém que se dispôs a quebrar parâmetros que vão além do esporte, optando por usar suas conquistas para gerar mudanças, tendo completa consciência do papel fundamental que exerce na inserção de pluralidade em um meio automobilístico que é totalmente carente de ídolos que se posicionem e apoiem causas.

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Meu nome é Lívia Martins, tenho 18 anos e sou uma aspirante a estudante de jornalismo impulsionada pela interseção entre Fórmula 1 e Feminismo Negro. Os esportes não são apenas competições físicas, mas reflexos fiéis da sociedade em que estão inseridos. Ao mergulhar nas corridas, percebo a necessidade de ampliar vozes femininas e negras neste universo na busca por inclusão e igualdade em um esporte historicamente dominado por homens.

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