[…] Ao longo do ano, ele somou vitórias e pódios importantes — por exemplo a vitória no Monaco Grand Prix…

A história da criação da Fórmula 1 todo torcedor já conhece de cor e salteado: em 1950, a categoria surgiu como uma iniciativa da Federação Internacional de Automobilismo para reunir os Grandes Prêmios que já ocorriam pelo continente europeu, na época, representado por Inglaterra, França, Itália, Mônaco, Suíça e Bélgica. Tal fato deixa nítido o quanto que parte da influência exercida no esporte vem da relação histórica ou recente dos países com a FIA nos bastidores.
Seja comprando uma equipe para chamar de sua, investindo em pilotos promissores ou oferecendo sediar alguma corrida, as nações travam verdadeiras batalhas por um dos esportes não somente de maior prestígio, como também de enorme retorno financeiro. Então, atualmente, quais são as bandeiras mais influentes na F1?
Os países por trás das equipes
Não é surpresa para ninguém que o país que mais possui títulos na Fórmula 1 seja também o criador do esporte. Neste sentido, o Reino Unido, além de ser o berço da F1, também tem a maior quantidade de títulos na história e, como se não bastasse, ainda é sede de várias das equipes atuais do grid, bem como das grandes equipes históricas.
Atualmente, os cinco países com mais títulos na categoria são: Reino Unido (com 20 títulos), Alemanha (12), Brasil (8), Argentina (5) e Áustria (4). O seleto grupo com algum título na F1 também é composto, na ordem, por: Finlândia, Austrália, França, Itália, Holanda (que provavelmente terá mais um título na temporada de 2023), Espanha, África do Sul, Estados Unidos, Nova Zelândia e Canadá.
O grid atual, composto por 10 equipes, não é nada diverso quando o assunto é localização da sede, uma vez que 60% das equipes estão somente no Reino Unido, estando o restante localizado na Itália (Ferrari e AlphaTauri) e Suíça (Alfa Romeo). A Haas, no entanto, é a única equipe com sede em três países diferentes ao mesmo tempo: Estados Unidos, Reino Unido e Itália.
Apesar dessa massiva presença das equipes no país do Rei Charles II, a estatística das bandeiras defendidas por cada equipe já é um pouco mais diversa, uma vez que sete países diferentes estão sendo representados pelas equipes que compõem o grid atualmente. Sendo eles: Reino Unido (representado pela Aston Martin, McLaren e Williams), Itália (AlphaTauri e Ferrari), Alemanha (Mercedes), Áustria (Red Bull), França (Alpine), Haas (Estados Unidos) e Suíça (Alfa Romeo).
Pilotos e suas bandeiras
Durante os 73 anos de história da F1, mais de 770 pilotos de 40 nacionalidades defenderam suas bandeiras em pista, sendo o Reino Unido (164) e os Estados Unidos (158) os detentores dos maiores números. O Brasil, em especial, contribuiu com 32 automobilistas para a categoria, tendo sido sinônimo de campeão quando Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna, que trouxeram oito títulos para casa, dominavam o grid. Porém, assim como os EUA, os tempos de glória parecem terem ficado para trás por não emplacarem um nome relevante na Fórmula 1 desde o começo da década passada.
Entre os esportistas notáveis, o alemão Michael Schumacher divide com o britânico Lewis Hamilton a maior quantidade de títulos do Campeonato de Pilotos (7). Ainda em atividade e mesmo sem um carro competitivo há duas temporadas, Hamilton isola o recorde de 103 pole positions e vitórias. Já no quesito participação, o espanhol Fernando Alonso mostra a cada corrida que tem o fogo no olho necessário para alcançar as 400 largadas nos próximos anos.
Entretanto, como tudo há de passar, se no início do século o público cansou de escutar repetidamente o hino da Alemanha e, até pouco, o clamor de “Deus salve a Rainha” era terror para os ouvidos dos outros competidores, há duas temporadas, o vento está soprando para a Holanda de Max Verstappen, bi-campeão que corre para alcançar o terceiro título consecutivo com folga em 2023.
Na escalação atual, a presença expressiva dos britânicos e dos espanhóis não impediu um feito inédito: Guanyu Zhou, o primeiro e único chinês a pilotar na F1. A permanência dele e do estadunidense Logan Sargeant são investidas nítidas dos respectivos países em estabelecerem relações fortes com a FIA, afinal, a China tem interesse em voltar ao calendário e o país do Tio Sam é responsável por sediar três Grandes Prêmios somente nesta temporada.
As principais sedes de Grandes Prêmios
Ao longo da história da F1 foram realizados 1086 Grandes Prêmios, tendo sido sediados por apenas 39 países ao redor do mundo. A Itália é o país que mais recebeu corridas, 104 no total. Atrás estão a Alemanha (79), Reino Unido (77), Estados Unidos (74) e Mônaco (69). No continente americano apenas cinco dos mais de 30 países da região já sediaram algum Grand Prix, sendo eles: Estados Unidos (74), Canadá (que em 2023 vai para a sua 52ª participação), Brasil (que completará 50 anos de participação na F1 em 2023), México (22) e Argentina (20, sendo o único país americano fora do calendário em 2023).
Atualmente, nove dos 23 GPs programados para 2023 foram ou serão sediados em países da Europa. No entanto, dois novos players têm aparecido com muita frequência no calendário: os países do Oriente Médio (que receberão quatro GPs) e os Estados Unidos (com três), em uma nova onda de Grandes Prêmios que vão muito além das questões financeiras ou do prestígio que é receber um Grande Prêmio da categoria rainha do automobilismo.
O interesse em sediar corridas está diretamente envolvido com um fenômeno conhecido como sportwashing, termo que pode ser traduzido como “lavagem esportiva”, que ocorre quando um governo se utiliza de algum esporte – ou evento esportivo – para criar uma imagem positiva de seu país com o intuito de apagar ou esconder ações negativas, sendo esta uma das principais estratégias de influência não-coercitiva que vários países têm adotado ao redor do mundo.
A utilização do sportwashing para fazer política é bem antiga. Como exemplos históricos, podem ser citados a utilização dos jogos olímpicos de 1936 como propaganda para o regime nazista, a intervenção da Ditadura Militar nas escalações e convocações da Seleção Brasileira em 1966, 1970, 1974, 1978 e 1982, as repressões às minorias nas copas de 2018 na Rússia, 2022 no Qatar e nos jogos olímpicos de 2022 na China.
Essa fórmula antiga, agora está sendo utilizada pelos países e oligarcas do Oriente Médio na Fórmula 1, mantendo a mesma essência: esconder problemas internos por meio de eventos ou promoções culturais de grande porte. Assim têm feito países como Qatar, Arábia Saudita, Azerbaijão e os Estados Unidos, que sediam grandes prêmios enquanto cometem grandes atrocidades contra suas próprias populações – como no caso qatari – ou contra “inimigos externos” – como no caso saudita, azeri e estadunidense.
Mas, além desse interesse (geo)político, por trás da promoção cultural que – spoiler – é realizada por todo e qualquer país no mundo, está ainda o interesse financeiro, sobretudo quando o assunto é a F1, categoria que é sabidamente lucrativa. Conforme estudo de impacto econômico disponível no website Baku City Circuit, somente nos quatro primeiros anos do GP de Baku os setores de turismo, hotelaria e transporte movimentaram mais de 73 milhões de dólares, chegando a um impacto direto na economia superior a 300 milhões de dólares. Enquanto isso, sozinho, o estreante GP de Miami em 2022 atingiu 350 milhões de dólares em impactos econômicos para a região.
O que o futuro guarda para os fãs do automobilismo, portanto, são mais corridas, cada vez mais luxuosas em novos circuitos no Oriente Médio, além de uma presença cada vez maior nos Estados Unidos, terreno do maior espetáculo automobilístico do mundo, a IndyCar. Sobretudo porque dinheiro e infraestrutura não são grandes problemas tanto para os khalifas quanto para os magnatas estadunidenses, que por sua vez estão desde 2019 nos planos da Liberty Media, atual dona da marca F1, dado o grandioso sucesso da série Drive to survive, que em 2022 bateu a marca de 569 mil espectadores.
Diante de tamanha análise acerca dos países mais influentes na Fórmula 1, é inegável o quanto a história da categoria explica as tendências do presente. Desde o interesse por prestígio e retorno financeiro, passando pelo nacionalismo intrínseco ao ato de estender a bandeira de sua nação no pódio, até os meios do fenômeno do sportwashing, a conclusão que fica é a de que os interesses defendidos pela Federação Internacional de Automobilismo podem, frequentemente, ultrapassar os valores esportivos e atingir em cheio a política internacional.
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Jorge Willian Ferreira Gonçalves é graduando em Relações Internacionais pela UFG, além de gostar de estudar e pesquisar sobre Leste-Europeu e Ásia Central, também é entusiasta da aviação e da Fórmula 1.
Nathalia Tetzner é estudante de Jornalismo e ama escrever sobre quase tudo. Seja debatendo cultura ou analisando Fórmula 1, ela sempre carrega consigo um senso crítico e social.
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