Os assédios no automobilismo e a verdadeira função do esporte

Hamilton: “We Race As One eram ‘apenas palavras’,é necessário mais para criar mudanças”

O GP da Áustria, de 2022, da Fórmula 1 trouxe muitas emoções na corrida e para o campeonato mundial de pilotos e de construtores, mas, infelizmente, as plataformas de mídias digitais registraram inúmeros casos de assédio às mulheres, racismo e homofobia.

Pilotos e equipes se manifestaram para condenar esses crimes e a Federação Internacional de Automobilismo divulgou uma nota, que prometia conversar com as vítimas desses atos. Esse contexto leva a refletir sobre qual é a verdadeira função do esporte, principalmente o de alto nível, como é a F1. Além de haver os aspectos do desporto que envolvem entretenimento e lucro financeiro, é necessário ressaltar a faceta educativa do esporte para pessoas de todas as idades e povos.

Parte do público do esporte argumenta que o esporte não está em nada relacionado com educação – nem com política -, por isso, as Federações Esportivas, atletas e equipes deveriam preocupar-se apenas com os lucros e o entretenimento. A falácia desse recurso se mostra quando há uma revolta geral quando uma casca de banana é lançada para um jogador de futebol em campo. A própria criação das Olímpiadas na era moderna, feita pelo barão de Coubertin, em 1896, visava a união dos povos e a educação por meio do desporto.

É importante ressaltar que o racismo, o machismo, a homofobia devem ser combatidos em qualquer contexto, mas o esporte deve ter na sua essência essa função.

Como foi dito, no GP da Áustria de 2022 houve muitos relatos de violência física ou psicológica contra minorias. A equipe Mercedes recebeu uma fã do piloto Lewis Hamilton que teve seu vestido levantado por torcedores bêbados. Eles disseram que ela não era digna de respeito por ser fã de Lewis. O time da Aston Martin recebeu, em seus boxes, mais duas torcedoras que sofreram assédio durante o final de semana de  corrida. No Twitter, as torcedoras procuravam formar laços e buscavam formas de ficar juntas para evitar a violência. Apesar dos relatos serem assustadores, eles não são privilégio de um único GP ou da F1, ele se estende por várias categorias de esporte a motor e, principalmente, desportos considerados como “masculinos” pela grande maioria de pessoas.

Para que haja mudanças e o esporte cumpra sua função educativa, devem ser implementadas medidas instrutivas e punitivas. O projeto “We Race as One” (“Nós Corremos como Um”, em uma tradução livre) não tem rendido os resultados esperados para que haja uma verdadeira inclusão na Fórmula 1. É preciso que pessoas de todas as minorias se sintam incluídas e bem-vindas no esporte a motor. E isso depende da inserção de qualidade desses grupos minoritários em categorias de base como competidores. Como também da criação de uma nova consciência de que mulheres, negros, deficientes e outras minorias devem frequentar as arquibancadas de forma livre, segura e equitária. Aplicar penas para pessoas que desrespeitam a boa convivência nos autódromos também é necessário, pois o que impede, muitas vezes, a infração da lei é a certeza de punição, mais do que a dureza da pena, segundo estudos de Psicologia Social.

A responsabilidade por tornar a F1 um lugar mais diverso e respeitoso, onde as pessoas podem competir, divertir-se, torcer ou simplesmente fazer análises – como defendem alguns – é de todos. A imprensa, o público, patrocinadores, FIA, equipes,  pilotos, organizadores das corridas devem manter um posicionamento severo e tomar medidas eficazes para que todos possam desfrutar livremente da F1 nas arquibancadas, nos boxes ou mesmo nas plataformas de mídias sociais. Formar torcidas opostas faz parte do esporte, a discriminação e o assédio não devem fazer. 

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Ester dos Santos é mestranda em Ciência Política, na UnB, acompanha Fórmula 1 desde 2009 e ama falar de automobilismo, política e assuntos afins.

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